segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Nobel premia bases da sociedade da informação

07/10/2009 |
Alexandre Gonçalves*
O Estado de S. Paulo

Tecnologias relacionadas à transmissão de dados por fibras ópticas e processamento digital de imagens deram a láurea a três cientistas.

O Nobel de Física premiou ontem duas descobertas que estabeleceram as bases da comunicação pela internet e da fotografia digital, fundamentais para a atual sociedade da informação. A Real Academia Sueca de Ciências reconheceu os trabalhos de Charles Kuen Kao, britânico de origem chinesa, por conquistas na transmissão da luz em fibras ópticas, e dos americanos Willard S. Boyle e George E. Smith, inventores de um circuito semicondutor de imagens, o sensor CCD, capaz de capturar a luz de forma eletrônica, revolucionando a fotografia. Ambos os trabalhos são do fim da década de 1960.

A descoberta de que o vidro e a água podem conduzir a luz foi realizada há milhares de anos, na Mesopotâmia e no Egito, e fibras de vidro simples eram usadas na medicina já na década de 1930. A invenção do laser, três décadas mais tarde, incentivou o jovem Kao a estudar as fibras de vidro e a calcular como transmitir a luz em distâncias longas por meio delas.

Em 1966, Kao concluiu que o maior desafio era produzir vidro com uma transparência nunca antes obtida - algo que considerava possível, mas difícil. Hoje, as redes de fibra óptica conservam 95% da luz depois de 1 quilômetro de transmissão, muito mais do que o 1% que Kao almejava reter na mesma distância em sua época.

Ele afirma que nunca esperou receber o prêmio, apesar do impacto social causado por suas descobertas. "As fibras ópticas mudaram muito o mundo da informação nos últimos 40 anos", apontou em um comunicado divulgado pela Universidade Chinesa de Hong Kong.

Premiação merecida

O pesquisador Helio Waldman, da Universidade Federal do ABC, considera que "os resultados obtidos por Charles Kao foram um marco". "Eles mostraram que era viável investir em fibras ópticas como forma de transmissão dos dados."

O cientista brasileiro recorda que o gargalo agora é o processamento e não mais a transmissão dos dados, graças à tecnologia que o pesquisador ajudou a desenvolver.

Hoje, boa parte do tráfego de dados nas redes de fibra óptica está constituído de imagens digitais, que devem sua origem ao CCD, o sensor que Boyle e Smith inventaram. O objetivo inicial dos dois pesquisadores não era obter imagens fotográficas, mas criar uma memória eletrônica melhorada, uso agora esquecido.

O CCD transforma a imagem óptica em sinais elétricos que são traduzidos para dígitos. Cada célula fotográfica pode ser recriada como um ponto de imagem - o popular pixel.

Uma companhia americana construiu, em 1972, o primeiro sensor de imagens com 100 por 100 pixels, comercializado anos depois. Em 1981, apareceu no mercado a primeira câmera com CCD.

O astrônomo Alexandre Andrei, do Observatório Nacional, no Rio, recorda de quando usava placas fotográficas para registrar as imagens celestes. "Os CCDs trouxeram conforto e a possibilidade de novas abordagens de pesquisa."

"Realmente faz bem para o ego de alguém", disse Smith, ontem, depois de saber que ganhara o prêmio. "Pessoas gostam de tirar fotos. Olhe para todas as câmeras nos celulares e webcams. Elas usam essa tecnologia."

Ainda nesta semana serão entregues os prêmios Nobel de Química, Literatura, Paz e Economia.

*Com Reuters e Agência Efe/ FNDC

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