Por Raul Longo
Não faz muito o Reinaldo, ou Reginaldo (nunca consigo memorizar o nome dessa gente) gritou ao mundo seu amor e paixão pelo John MacCain.
Gritou ao mundo é força de expressão, pois o moço é editor da Veja e pouca gente no mundo ainda lê esse troço. Mas, enfim, gritou. Num orgasmo incontido.
Explicável! E pra quem observa melhor, nem seria preciso saber ler nas entrelinhas para perceber que mesmo não assumindo com tamanha histeria, todo o PIG torcia fragorosamente pela derrota do “negão”, desde quando ainda concorria com a loira Clinton. Só nos últimos tempos, com a guinada de seus colegas patrícios, é que correram atrás do prejuízo e saíram obameando.
Daí pra frente, o Obama se tornou o Anunciado, o novo Messias, tal qual se o prega hoje, inclusive aqui nas filiais do PIG.
A verdadeira nacionalidade do PIG se definiu lá no início da década de 50, quando Carlos Lacerda naturalizou-se como defensor dos interesses pátrios do decantado, Estados Unidos da América. Foi aí, e por Lacerda -- o mestre do entreguismo nacional evocado às vésperas do pleito presidencial de 2006 por Fernando Henrique Cardoso -- que se fundou o indigitado Partido da Imprensa Golpista, sem dúvida o mais poderoso organismo de manutenção do colonialismo que os Estados Unidos instalou no Brasil.
E de lá o PIG vem combatendo todos governos democraticamente eleitos, como fez com o do Juscelino Kubistchek e o do João Goulart. E apoiando ditaduras, condicionando Collores de Melo. Atualmente dedica-se em acobertar escândalos de corrupção dos governos do PSDB, como o da Yeda Cruzes (põe cruzes nisso!), e outros de correligionários do entreguismo de FHC que dizia que esse negócio de neo-liberalismo era mero nhém-nhém-nhém. Mas neo-liberalizou a torto e a direito, com a Petrobrax já na boca do caixa, e a Vale do Rio Doce privatizada na bacia das almas por um 1/3 do seu faturamento anual.
Claro! O PIG não tem porque defender os interesses brasileiros, pois evidente que cidadãos como Boris Casoy, Diogo Mainardi, Dora Kramer e outros foram naturalizados aos interesses estadunidenses há tantos anos que não podem ter noção da possibilidade de outra nacionalidade. Seguem piedosamente o velho raciocínio de que só é bom para o resto do mundo o que for bom para os Estados Unidos.
Mas segundo Nelson Jobim e Gilmar Mendes o Brasil tem de olhar pra frente e esquecer a sujeira debaixo do tapete. A questão é: com o desacerto e desastre do neo-liberalismo, reconhecido até por seus mentores como o ex-presidente do Banco Central estadunidense num recente mea-culpa, pra onde vai olhar o PIG?
Só se mais uma vez o fizer através de si mesmos, pois o PIG é o próprio tapete.
Nisso de apoiar fracassos e depois fazer de conta que nunca tiveram qualquer relação com o fracassado, é próprio do PIG. Compreensível. Afinal não têm nada mesmo a ver com os insucessos administrativos de fora de seu próprio país.
Mas e agora que especialistas como Miriam Leitão ou Sardemberg quebram a cara lá na casa deles mesmos?
Também farão um mea-culpa? Serão tão ácidos com o neo-liberalismo que tanto defenderam, como o foram ao prever o completo desastre da economia do governo Lula?
A crise internacional desmascarou as reduções de juros promovidas pelo presidente deles, o George W. Bush. E como é que vão se virar para justificar a crítica a política econômica do governo brasileiro para conter a inflação através da taxa Selic, se a queda de juros que tanto defenderam, além de promover concentração de renda e fomentar a pobreza no país mais rico do mundo, quebrou toda a economia internacional criando créditos podres?
É uma situação bem apertada essa do Arnaldo Jabour, do William Wack, do Cony e outros quantos, e que me perdoem se erro na grafia dos nomes de alguns, pois são tantos que se foram numa só cambulhada e nem mesmo conseguiria lembrar de todos.
Quê vergonha, não?
Mas tudo bem. Não é a primeira, nem será a última vez, e Hommer Simpsons -- como William Bonner diz considerar seus espectadores -- nunca faltarão para ler Vejas, assistir Globos, folhear Épocas e deglutir Folhas.
Não foi assim com a Zélia Cardoso de Melo que numa noite afirmou que aplicaria seu dinheiro na poupança, e no dia seguinte garfou a grana toda da classe média? Nem por isso a classe média deixou de apoiar o governo Collor!
Só deixou, quando Collor não interessou mais ao seu próprio criador: o PIG.
Depois a classe média sai citando o Pelé, dizendo que é o povo quem não sabe votar. E continua acreditando na besteiras da Eliane Catanhade, do Clovis Rossi, Danuza Leão e toda a turma dos ditos intelectuaus da mídia, os analistas econômicos, os cientistas políticos que tanto arrotam sabedorias apostando num cow-boy aloprado, e sendo desmoralizados por um nordestino operário.
Que vergonha!
Nem seria tanta se ao menos tivessem a grandeza para repetir o mea-culpa, o reconhecimento do próprio erro. Mas essa desfaçatez e falta de vergonha até dá pra entender... Não estão em casa mesmo! Se estivessem na própria casa, lá nos Estados Unidos, duvido que seriam tão irresponsáveis e caras-de-pau.
No entanto, essa expectativa mundial, essa enorme euforia em todo o mundo com a eleição do Obama, não apenas comprova que para o mundo inteiro o PIG do Brasil não passa de um monte de bobagem, tanto no que atacaram a política econômica e social do governo Lula, quanto no que acirradamente defenderam a política e da economia de seu presidente Bush; como ainda acena com um risco enorme à razão de ser do próprio partido.
Lá por março passado, fiz circular pela internet sob o título Habemus Obama, uma convicção minha de que se Obama chegasse à presidência dos Estados Unidos do PIG com todas as propostas que anunciava, ou acabaria se moldando a manutenção do sistema político econômico do capitalismo imperialista, ou seria eliminado pelo sistema.
De lá pra cá as coisas mudaram muito. O sistema quebrou e o desastre do governo do PIG foi tamanho que, hoje, só alguém muito inconseqüente pioraria ainda mais a situação eliminando o Obama. Por incrível que pareça, hoje, o negro Obama tornou-se a última esperança para todos. Desde o judeu mais fundamentalista até o mais racista dos nazistas.
Quando se imaginaria chegar a esse ponto? Se hoje queimam o Obama, quem vai pra fogueira é a Ku Klux Khan!
Então, parodiando um antigo personagem: esqueçam tudo o que escrevi ali. Mas ainda resta a dúvida: haverá na consciência de Obama o mesmo conteúdo de seus discursos?
Não quero ser um estraga prazeres e concordo que o discurso pareça sincero. Apesar de umas prepotências típicas, como aquilo de “somos os Estados Unidos da América”, e até da mal explicada história de evacuar as forças do Iraque para concentrar no Afeganistão, há vários pontos em que o discurso me parece promissor e não duvido que Obama os assuma. Não apenas por ser Obama, mas porque ou assume ou não tem outro jeito pro mau-jeito em que a coisa está.
Preferia que Obama aproveitasse para lembrar que eles são os Estados Unidos da América, tanto quanto o Paraguai e o Equador também são da América, ou a Nova Zelândia é da Oceania, Polônia e Portugal são da Europa, Zâmbia e Congo são da África, e por aí afora, afinal toda a hegemônica desgraça mundial tem a mesma origem desde a queda do Muro de Berlim. Mas isso de tumefação umbilical dos estadunidenses já conhecemos através do próprio PIG. Sabemos que todo cidadão daquele país é um pouco Jô Soares, um pouco Luciana Hipólito, Noblat... Faz parte deles.
Agora, se isso for só o jeitão atávico e de fato o Obama vier a promover uma relação internacional mais justa, humana e honesta, suspendendo o bloqueio a Cuba, reconhecendo a autonomia das nações, o direito dos povos sobre as potencialidades de seus países, combatendo os reais inimigos do desenvolvimento da humanidade, aí sim a coisa ficará muito feita pro lado do PIG.
Já perderam em casa e acabarão perdendo a própria casa. Ficarão sem teto! Já imaginaram um MST-PIG? Movimento dos Sem Teto do PIG.
Que coisa horrível! Que espetáculo dantesco! Marinhos puxando Ali Kamel pela mão. Olavos de Carvalho balbuciando solitários! Frias e Civitas vagando de lá pra cá, mundo afora, sem encontrar a própria pátria perdida nas mãos de um negro. Um negro!
Por outro lado, se livres dos preconceitos inseminados pelo PIG, da intolerância do PIG, da incapacidade do PIG em reconhecer como natural conseqüência democrática a participação social de negros, índios, nordestinos, trabalhadores das indústrias e dos campos... Se chegarmos a isso, talvez não passemos mais vergonha como a desta semana em que o pai do Hamilton, o campeão de Formula 1, reclamou à imprensa inglesa dos maus tratos e manifestações de racismo sofridos por sua família em São Paulo, por ocasião da corrida em Interlagos.
Livres dos preconceitos que historicamente o PIG sempre difundiu entre nós, quem sabe ainda consigamos superar nossos atavismos de prepotência como fez a sociedade norte-americana ao eleger o negro Barack Obama.
Raul Longo
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