quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Entrevista: Fritjof Capra "o Tao da sustentabilidade"



A solução para os problemas climáticos e financeiros do mundo passa pela colaboração entre três centros de poder: governos, empresas e sociedade civil. Para o escritor, cientista e educador ambiental Fritjof Capra, autor do Best-seller “O Tao da Física”, o Brasil está adiantado na organização desse diálogo, que deverá ser retomando nos EUA com a eleição de Barack Obama. “Ele tem a habilidade de procurar as pessoas para dialogar, facilitar, mediar. E assim vamos construir um futuro sustentável”. Capra, que há mais de 20 anos atua no movimento ambiental, veio ao Brasil para divulgar seu novo livro, “A Ciência de Leonardo da Vinci”, e também para participar da Conferência EcoPower, em Florianópolis, quando deixou clara a sua opinião sobre a retomada do programa nuclear pelo governo brasileiro. “É o caminho errado. O Brasil não precisa de energia nuclear.”Confira abaixo, a entrevista que Fritjof Capra concedeu à Revista do Greenpeace.
Revista do Greenpeace: Qual o papel da sociedade civil no combate às mudanças climáticas?Fritjof Capra: É muito importante. No mundo de hoje, há três centros de poder: governo, empresas e sociedade civil. Só resolveremos nossos problemas, que estão ficando cada vez mais sérios, quando esses três setores trabalharem juntos. O Brasil é um dos poucos países no mundo em que essa colaboração tem sido organizada sistematicamente. O governo tem estabelecido vários canais de acesso à sociedade civil, o que as empresas sempre tiveram.Cada um desses centros de poder tem habilidade e qualidade específicas. A sociedade civil contribui com uma visão de um outro mundo possível, como dizemos no Fórum Social Mundial. Temos trabalhado em criar um futuro sustentável, em institutos e universidades, com a publicação de livros e relatórios. Não somos muito bons em gerenciamento de soluções de problemas e em tecnologias, áreas mais afeitas ao mundo dos negócios. É esse conhecimento que as empresas podem oferecer. Já o governo promove leis e regras. Com a eleição de Obama nos Estados Unidos, já podemos esperar que essa colaboração entre os três centros de poder aconteça, lá e em nível internacional também.
RG: O mundo mexeu rápido para conter a crise financeira mas ainda reluta em promover ações concretas para encontrar soluções ao problema das mudanças climáticas. Por que?
FC: Tivemos oito anos de sabotagem dos Estados Unidos, sob a administração Bush, e isso teve seu efeito no mundo. Sem a participação dos EUA no Protocolo de Kyoto, ficou fácil para a China, por exemplo, não assumir compromissos também. Mas isso deve mudar agora.
RG: Falta vontade política ou é erro de avaliação?
FC: Se você me perguntasse isso a uns seis meses, eu diria que havia sim uma clara falta de vontade política. Mas a situação realmente mudou agora, com a chegada de Obama ao poder. Ele é um internacionalista, tem a habilidade de procurar as pessoas para dialogar, facilitar, mediar. Ele vai acabar com o unilateralismo promovido pelo governo Bush. Teremos um tipo de liderança bem diferente agora na Casa Branca.
RG: O Brasil tem fartura de opções para a geração de energia, com muita água, vento e sol, mas o governo brasileiro preferiu retomar seu programa nuclear. Como o senhor vê essa decisão?
FC: É o caminho errado, não há dúvidas sobre isso. Para cada dólar ou real gasto em energia nuclear, você pode ter múltiplas opções de energias com fontes renováveis. Energia nuclear é uma forma muito cara e ineficiente de se fazer eletricidade, porque é altamente centralizada, não é eficiente e muito cara. Tão cara que se você oferecer projetos nucleares no mercado de ações, ninguém vai comprar. Energia nuclear não é viável economicamente.As únicas usinas nucleares que existem ou estão em construção hoje no mundo são subsidiadas pelo poder público, em geral de países autoritários. É possível até dizer que construir uma série de usinas nucleares pode representar um risco à democracia, devido à insegurança e possibilidade de proliferação de armas nucleares. Não precisamos desse tipo de energia, há muitas outras fontes tão ou mais eficientes de se gerar eletricidade.

Esta reportagem foi extraída da revista “Greenpeace”, de edição da própria ONG, edição outubro a dezembro de 2008, páginas 14 e 15, para fins didáticos. + informações no site http://www.greenpeace.org.br/

e do site da Casa dos holons de onde pesquisei a entrevista http://www.13luas.art.br/casadosholons/xps/modules/articles/article.php?id=11

Saiba mais do Capra na EcoPower:

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