sábado, 1 de março de 2008

Crônica: De drogas e aborrecentes


DE DROGAS E ABORRECENTES
Raul Longo
Volta às aulas, início de ano letivo e eletivo. Na porta das escolas a ameaça do tráfico e em toda parte a chateação dos aborrecentes. Mas é preciso manter a calma, sem perder a energia.

Final de férias, restinho de verão. Começo de março. Não ficam nem os retardatários.
Um ou outro aposentado espichando prazeres, graças à sobra do dinheiro que antes não havia, pois para os governos daqueles tempos não passavam de um bando de vagabundos.
Mas o que importa mesmo é que neste março começa, enfim, o ano letivo. E eletivo também. E lá vêm os aborrecentes.
E as drogas...
Você que é pai, mãe, tio, tia, irmão ou irmã, professor e professoras, sabe bem o que é isso. A preocupação que advém dessa mistura: drogas e aborrecentes.
Então, já que o ano inicia mesmo é agora, em março, vamos conversar um pouco sobre esse assunto, buscando compreender tão aflitivo problema, agravado pelo advento da internet por onde somos assediados por traficantes de drogas sintéticas, elaboradas em laboratórios informáticos e distribuídas de computador em computador.
Os aborrecentes, coitados, muitas vezes até por ingenuidade, inexperiência, falta de malícia, ou dificuldade de compreensão, são os principais “mulas” desse tipo de drogas. As distribuem para todos os lados e você, que está ali tranqüilo, conferindo suas correspondências, de repente recebe um anexo qualquer, aparentemente inofensivo. Quando vai abrir é mais uma vez atormentado por uma daquelas piadinhas sem graça, velha, repetida, preconceituosa, boba. E - pasmem! - descobre que a droga lhe foi infectada por um aborrecente de suas relações familiares, ou um amigo.
Se não isso, lhe enviam absurdos e alarmismos! Invasão da Amazônia! Caosáreo! Epidemias tropicais! E outros terrorismos virtuais tão improváveis e convincentes quanto os dos vídeos game.
Piores são as maledicências. A violência oral desses drogados fazendo da tela do seu monitor um muro de comadres, onde a vida alheia é defasada e devassada sem qualquer compromisso com o menor senso de ridículo ou responsabilidade com fatos, fontes. Nenhuma base de comprovação do que, anonimamente, inventam sobre quem bem entendam. Acusa-se por acusar. Comentam-se particularidades individuais que mesmo no mais intenso convívio não se conhece da própria esposa, do próprio filho e nem de si próprio. Não têm consideração por nada nem ninguém. Querem é extravasar o inexplicável ódio a que são condicionados pelas drogas, e pouco lhes importa qualquer relação com a verdade.

É triste! É mesmo muito triste se ter um viciado nessas drogas. E não dá para fazer vista grossa, dar desculpa de que as traficadas pelos computadores sejam drogas leves, que não chegam a causar dependência. Muitos pais e amigos consideram mero passatempo sem maior importância, e quando se dão conta estão convivendo com um Roberto Jefferson dentro da própria casa.
Nunca se pode prever quando uma bad trip vai passar da crise de pânico de uma Regina Duarte, para crise de histeria de uma Heloísa Helena. Hoje você o ignora como uma Ana Maria Braga qualquer, e amanhã ou depois tem lá uma Hebe Camargo pulando como Ivete Sangalo ou chorando como Cristiane Torloni bem no meio da sua sala, na frente das visitas, incomodando seus vizinhos.
Previna-se contra tais vexames: assim que perceber que o seu filho, sua filha, algum ente de suas relações está sendo usado como “mula” para o repasse dessas drogas, dedique um pouco de sua atenção. Converse, explique. Mas nunca perca a paciência. Não abandone esse viciado à própria sorte ou nas mãos dos traficantes.
Incentive o uso do computador para atividades mais inteligentes e proveitosas. Indique sítios mais democráticos, participativos, melhor informados. Mostre como tirar dúvidas ou construir informações baseadas em fatos reais, em dados concretos. Tanto pelos sítios dos diversos ministérios, quanto do IBGE, da FGV e outros institutos de pesquisa que registram recordes que sequer sonhávamos possíveis. Ali mesmo o seu aborrecente poderá comparar o Brasil de hoje, com o que era há 7, 9, 10 anos atrás.
Se isso ainda não o ajudar a compreender o quanto este país melhorou em todos os aspectos, indique sítios de profissionais de reconhecida competência e credibilidade, como o do Luís Nassif, do Mino Carta, do pessoal da Caros Amigos, do Paulo Henrique Amorim. Afaste seu filho, seu primo, seu irmão, seu amigo, dos sítios de torcidas organizadas, criados apenas para instigar à violência e incentivar a estupidez.
Mostre que as páginas pornográficas só levam à solitária e improdutiva masturbação. Denuncie a pedofilia dos que estupram virtualmente a consciência e o raciocínio dos aborrecentes desse país.
Dê bons exemplos. Aponte os grupos de trocas de informações inteligentes, de comentários sadios sobre as realidades do Brasil e do mundo. Tem o Beatrice, o Credibilidade Ética, o do Eduardo Guimarães. Tem os Apoiadores do Zé Dirceu, o Universidade Nômade e uma infinidade de outras listas que podem ajudar na recuperação do seu aborrecente, afastando-o das drogas.
Claro que a princípio ele reagirá, acreditará que você está querendo enganá-lo, querendo “fazer sua cabeça”. Mas é uma reação compreensível. Até agora ele sempre foi condicionado a pensar da forma que interessa aos traficantes, então é natural imaginar que você pretenda a mesma coisa. Entenda: para aquele que sempre foi enganado, mesmo quando se descobre como tal, não há outra intenção possível e neste mundo só existem enganadores.
Seja compreensivo, perceba que vítima de subliminar e cotidiana injeção de drogas, o aborrecente perde a capacidade de distinguir. Não diferencia pit bull de bichano. Estende o dedo a rottweiler, pedindo: “- Dá o pé louro!”

Antes que o aborrecente de suas relações chegue a esse ponto, cabe a você lhe apresentar uma chance. Insista. E se continuar resistindo, baixe sítios estrangeiros e traduza as notícias correntes nos principais órgãos de imprensa do mundo. Mostre quanto mudou a percepção internacional sobre o Brasil. De como saímos dos piores e mais vergonhosos índices sócio/econômicos mundiais, para nos tornarmos, como país e sociedade, uma referência exemplar apontada em discursos de grandes estadistas e páginas de conceituados órgãos de imprensa das grandes nações e potências.
Como última, mas principal recomendação: livre-se de seus próprios preconceitos. Não julgue o seu aborrecente apenas pela idade, por faixa etária. Existem aborrecentes de 15 e 37 anos. Há aborrecentes de 48 ou 60 anos. Nunca é tarde para se tirar um aborrecente do obscuro mundo das drogas, mas é um erro pensar que nesse mundo só caem os mais jovens e as crianças. Ou os menos cultos e educados.
Nunca se julgue superior a um aborrecente. Nunca julgue um aborrecente descartável. Entramos em ano eletivo, e as drogas estão soltas. Não os abandone à própria sorte ou em mãos dos traficantes.
Tenha paciência, compreenda seus problemas de auto-afirmação. Entenda que ainda torcem para que o Brasil volte a dar errado como os fizeram acreditar que aconteceria, apenas para provarem a si mesmos terem acreditado nas pessoas certas. Qualquer analista, psicólogo, sabe como funciona essa relação, essa doentia dependência sado/masoquista entre o enganado e o enganador.
Nunca ouviu falar de mulheres que só se apaixonam por homens canalhas, ou vice-versa? A dependência psíquica do seqüestrado ao seqüestrador? A projeção da vítima ao algoz?

Principais sintomas da aborrecência.

Inúmeros são os sintomas da aborrecência, relativos à droga da qual depende. Mas uma característica se generaliza entre todos: o pedantismo. Todo aborrecente é antes de tudo um pedante.
Há não muito tempo, uma mulher em idade adulta mandou o autor de um livro de mais de 200 páginas versando sobre o candomblé, que pesquisasse quem entenda do assunto, porque, segundo ela, Olorum não significa grande coisa na cultura e nos cultos afros como teria afirmado o escritor do livro com aproximadamente 500 notas de referências etnográficas. Nem passou pela cabeça da dona, a impossibilidade de alguém que não tenha idéia do significado de Krishna, em escrever 10 linhas sobre hinduísmo. Ela foi logo reproduzindo e afirmando como profunda sabedoria a informação com a qual lhe enganaram, ou que ela própria entendeu mal.
O que é isso? Típico pedantismo de aborrecente. E o que faz um aborrecente, adulto, ser pedante ao ridículo de mandar alguém se informar sobre um assunto do qual demonstra quase absoluto desconhecimento? Exatamente esse quase.
Independente da idade cronológica que tenha, o aborrecente é todo aquele que quase sabe de alguma coisa. Quase sabe, mas nunca sabe o suficiente para aproveitar as excelentes oportunidades que se lhe apresentam de ficar calado, de observar, aprender. A ansiedade provocada pelas drogas, o impulsiona compulsivamente ao ato da fala ao mesmo tempo em que o torna desprovido de raciocínio próprio. Resulta que na verdade ele não fala, mas articula repetindo o que as drogas inculcam em seu cérebro debilitado, reproduzindo a ação popularmente denominada como síndrome do papagaio.
É preciso compreender esse processo e, sobretudo, ter paciência e relevar o pedantismo do aborrecente porque não lhe é uma expressão natural, mas incutida pela droga que consome. Observe: o que é um Jô Soares? As meninas do Jô Soares? O William Wack ou Bonner? O Arnaldo Jabor?
Ainda que não tão pesadas quanto alucinógenos como Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi que conduzem gôndolas em seus delírios venezianos pela Vieira Souto ou Av. Paulista, todas essas drogas também levam os aborrecentes a surtos psicóticos coletivos quanto ingerem Eliane Catanhede, um insalubre e inconfundível caso de ameaça à saúde pública!
Outro triste sintoma bastante conhecido é a depressão aguda Clóvis Rossi. É lamentável o estado dos consumidores desta droga. Neste carnaval se registrou o caso de um fã que na festa de comemoração da vitória de sua escola de samba, resolveu declarar curtida paixão à atriz Luciana Piovani. La Piovani, levemente embriagada, encantou-se com o discurso do rapaz a quem entregou as chaves do próprio carro e apartamento. Chegando ao recinto, o felizardo descobre num estandarte alçado à parede principal da sala do apartamento, que coincidentemente a musa também é torcedora de seu time de coração, por sinal sagrado campeão estadual no último certame, o que conferiu ao torcedor o prêmio de polpudo bolão. Não obstante, sem qualquer razão aparente, repentinamente o saudável jovem é acometido de tão aguda depressão que a celebridade teve de chamar socorro. Mexe daqui, mexe de lá, encontraram no bolso do pobre aborrecente desfalecido, ao lado da bela em mínimas peças íntimas, um recorte da droga Folha de São Paulo, potencializada pela droga Clóvis Rossi.

Depois de medicado e já tendo retomado parcialmente a consciência, o rapaz comentou: “- É... Sim, bonita... Mas no tempo de FHC era melhor.”
Enfim, embora possamos exemplificar alguns efeitos das drogas, na verdade sempre serão inesperados e devemos estar preparados para ajudar nossos amigos. Muitas vezes, na aparência serena de um Carlos Heitor Cony, revela-se o potencial explosivo de uma bomba H (a de Hiroxima, não a ex-senadora).
Poderíamos nos debruçar aqui sobre outros sintomas também muito comuns, como o da droga Mirian Leitão, mais deprimente do que veraneio na Transilvânia. Ou o do individualismo provocado por drogas tipo Augusto Nunes, que causam babas de ódio e escorrimentos das fossas nasais a cada vez que o viciado calcula o correspondente de um prato de comida possibilitado pelo PBF, em gramas de sua droga predileta. É verdade que a grama da droga Augusto Nunes anda desvalorizada no mercado, mas para seu viciado, alimentar criança miserável continua sendo um desperdício demagógico imperdoável.

No entanto, não perca a esperança nem a paciência. Lute pela recuperação do seu aborrecente. Não desista dele... A menos que já tenha chegado ao estágio Olavo de Carvalho. Aí meu amigo, minha amiga, desculpe a sinceridade, mas nesse caso não tem Olorum, Krishna, Alá ou Jeová que dê jeito. Pode enfiar camisa de força e mandar internar que o caso já está perdido.
Raul LongoPouso da Poesia
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