Em nota ontém, o colunista Raul Sartori (A Notícia) continua um debate sobre o Samba de ontém e de hoje e comenta:" O maestro e mestre no assunto André Calibrina também entra na discussão. Reclama que as rádios não tocam mais os sambas-enredo e assim fica difícil familiarizar-se com estas obras na atualidade. E exalta o samba da Viradouro, do Rio de Janeiro, como "uma obra-prima de melodia e poesia, melhor samba deste ano". E dá mais uma dica: Wantuir, da Unidos da Tijuca, é o melhor intérprete na atualidade."
Concordo com o Calibrina e lembro da importância que as rádios tiveram na popularização do nosso carnaval. Antigamente todo mundo sabia os sambas-enredo das Escolas da Cidade. Hoje só do Rio e olhe lá ...
4 comentários:
Esse papo de Carnaval é muito interessante. Só que nesse caso, dos sambas que hoje não tocam nas rádios, que não estão na boca do povo, etc, é apenas mais um sintoma de uma sociedade que perdeu-se a dimensão de tudo e não sabe para onde vai. E quando alguém (no caso uma sociedade) não sabe onde quer chegar, o máximo que se pode esperar é - a exemplo do Titanic - que esbarre de frente com um iceberg gigantesco, para não dizer com muitos deles. Mas voltando ao que interessa, no caso do Rio de janeiro, graças a Deus a Globo exibe as vinhetas com os sambas e com a Globeleza. Não fosse isso, teríamos perdido muito mais dos carnavais. Por aqui, as emissoras também se esforçam para ajudar, se empenham, mas a meu ver, os equívocos maiores partem mesmo das agremiações. O que queremos preservar? Aqui já começa a acontecer o que no Rio de Janeiro é comum. Grande parte das pessoas que trabalham nos barracões das escolas, a comunidade da escola, não tem condições de comprar as fantasias que eles mesmos fazem. E não só isso, também na hora do desfile não conseguem comprar sequer o ingresso. O que lhes resta é disputar espaço em pé, com os piores ângulos - os melhores são explorados e tomados pelas arquibancadas, camarotes e emissoras de TV (mídia em geral). E não pensem que as escolas entendem essa situação e não cobram dessas pessoas as fantasias. Cobram, e sem desconto. Nosso carnaval é uma das maiores maravilhas do mundo, mesmo sem ter oficialmente esse título. E como tal, virou fonte de faturamento exorbitante, exploração e ponto final. Pessoas que nunca foram no morro, na comunidade, no dia do desfile simplesmente chegam, pagam a fantasia e desfilam. Uns ainda se dão ao luxo de aparecer em alguns ensaios. Mas não adianta, não tem o DNA da coisa. Como não sabem a letra do samba e muito menos o enredo (vale lembrar que enredo é uma coisa e samba-enredo, ou samba de enredo, outra), não cantam, não sentem o coração pulsar no compasso da bateria e das arquibancadas, e apenas aparecem, se mostram, como se eles fossem a graça, o belo, o esplendor. Com isso a escola toma uma multa por não cantar o samba, por atravessar o samba, por perder tempo, errar na evolução, etc, perde o carnaval e não sabem a razão. Destaques, sim, destaques são importantes, e não necessariamente esses precisam ser das comunidades, claro. Só que hoje qualquer pavão é destaque, qualquer bobalhão paga a fantasia e tira de um indivíduo da comunidade a chance de ir para a passarela com as cores do coração. Talvez possamos ate dizer que -senão hoje, logo - em breve nossas escolas desfilarão o ridículo. E nós estaremos questionando a morte do samba, das marchinhas, etc. Parei, senão isso vai acabar dando samba. Fui! Kiko
"Ensaiei meu samba o ano inteiro. Comprei surdo e tamborim. Gastei tudo em fantasia. Era só o que eu queria, e ela jurou desfilar pra mim. Em retalhos de cetim, eu dormi o ano inteiro e ela jurou desfilar pra mim. Minha escola estava tão bonita..."
É meu caro Kiko, essa é uma das discussões onde sempre está presente o dilema do "mercado" e do "público". Até onde o mercado vai ocupar o espaço público do Carnaval? O mesmo tem acontecido de forma evidente no Futebol. São nestes espaços culturais tão importantes para o povo brasileiro, que se evidencia claramente esse dilema e essa luta constante de hegemonia cultural entre a sociedade de consumo midiática e a cultura popular criativa.
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